Saúde Mental no Brasil: uma reconstrução necessária
Nos últimos anos, temos vivido uma crescente necessidade de olhar com mais cuidado para a saúde mental da população brasileira. O relatório mais recente do Ministério da Saúde revela um dado importante: em 2024, o Brasil ultrapassou a marca de 3.019 Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) habilitados, alcançando mais de 2.000 municípios. Isso representa um esforço significativo de capilarização e um movimento que vai muito além da técnica — toca o compromisso com o cuidado em liberdade.
No entanto, os números contam também uma história de pausas e retomadas. Após uma desaceleração na expansão da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) entre 2016 e 2022, foi apenas nos últimos dois anos que voltamos a crescer com mais solidez. A criação de novas unidades, o aumento no orçamento (mais de 35%) e a regulamentação de serviços como os Centros de Convivência mostram que há uma tentativa concreta de reconstrução — e essa reconstrução é urgente.
📊 Distribuição de CAPS por Região (2024)
Região | Quantidade de CAPS | % do Total Nacional |
---|---|---|
Sudeste | 1.166 | 38,6% |
Nordeste | 929 | 30,8% |
Sul | 498 | 16,5% |
Centro-Oeste | 239 | 7,9% |
Norte | 187 | 6,2% |
Total | 3.019 | 100% |
Fonte: Relatório Saúde Mental em Dados – Edição nº 13, Ministério da Saúde.
📈 Evolução de CAPS habilitados (2010–2024)
Ano | CAPS habilitados |
---|---|
2010 | 1.374 |
2014 | 2.209 |
2018 | 2.608 |
2022 | 2.861 |
2024 | 3.019 |
Percebe-se uma desaceleração entre 2018 e 2022, com retomada do crescimento a partir de 2023.
Mais do que estrutura, falamos de presença — de território, de escuta, de vínculo. A saúde mental não é apenas ausência de transtorno, é a possibilidade de habitar o mundo com dignidade, de ser reconhecido, de viver com sentido. Em cada dado, uma pergunta silenciosa se impõe: estamos prontos para cuidar uns dos outros de verdade?
Enquanto a política pública busca se reconstruir, talvez o convite mais honesto seja o de reconstruirmos também nosso olhar sobre o sofrimento. Que possamos reconhecer, como dizia Heráclito, que “não nos banhamos duas vezes no mesmo rio” — porque tanto o rio quanto nós, já somos outros. E cuidar é, acima de tudo, acompanhar o outro no seu fluxo.
Fonte – http://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/s/saude-mental/saude-mental-em-dados/saude-mental-em-dados-edicao-no-13-fevereiro-de-2025/view
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